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A celebração do Carnaval em Torres Vedras no ano 1908 👺🤡

Assim foi descrito a celebração do Carnaval de 1908 em Torres Vedras. 

Na rua existiu “algumas mascaradas que, parodiando grupos políticos e assuntos tipicamente locais”, que encheu “o ventre de riso ao torreense”. Trazendo a população à rua para ver as animações. A mascarada, de “um grupo político, representado vários tipos locais nacionalistas”. Os carros com mascarados, existindo em “alguns pontos verdadeiras “batalhas” de grã e de “confetti””. A paródia sobre a canalização das águas de Torres Vedras, onde os mascarados de cantoneiros, apontadores, engenheiro e as mulheres com as bilhas de água faziam esta paródia nas ruas. E também existiu um “outro grupo político representado o franquismo local”. Houve o “enterro do entrudo”, que percorreu as principais ruas, com a música da marcha fúnebre, “levando num esquife a figura do “Carnaval” que terminou (…) numa fogueira acesa no largo da Graça”.

Também existiram programas de espetáculos e de divertimentos no Grémio Artístico-Comercial, Casino e na Tuna Comercial Torreense.


Nota: Nesta altura, o Carnaval “sujo” de rua e as “paródias”, não eram muito bem vistos pelas classes altas, religiosas e políticas. Achando essas brincadeiras de Carnaval “sem graça” ou algo não “digno de menção”. Existindo editais, no distrito, a proibir algumas vendas e brincadeiras. Para as paródias de grupo acontecerem (como também as procissões religiosas), nas ruas de Torres Vedras, teria que existir um pedido de autorização para essa realização.


Aqui poderá ler os textos completos.                     

«Carnaval em Torres

Como de costume o carnaval em Torres limitar-se-á aos bailes no Casino, Grémio e Tuna, e à récita de segunda-feira no Grémio.»

Texto da “Folha de Torres Vedras” a 1 março de 1908.

 Texto original:

«O Carnaval em Torres

Saindo da costumada insipides em que tem jazido há muitos anos nesta vila, o Carnaval lá se mostrou este ano menos carrancudo, apresentando-nos algumas mascaradas que, parodiando grupos políticos e assuntos tipicamente locais, vieram encher o ventre de riso ao torreense pacato e desacostumado a passar horas de franca alegria e hilaridade na época de entrudo.

Pode mesmo dizer-se que o Carnaval em Torres fez movimentar a população da vila, trazendo-a á rua a saborear a “verve” das paródias cheias de graça e distinção e que mereceram o elogio de toda a gente pela finura e galhardia como se apresentaram.

A primeira mascarada que saiu a público foi, no domingo gordo, um grupo político, representando vários tipos locais nacionalistas e tendo como legenda: “Centro «Portugal»”.

A surpresa e a “charge” flagrante deste grupo, fez convergir magotes de pessoas, as embocaduras das ruas e largos da vila, por onde a mascarada transitou.

A segunda-feira passou-se mais desanimada. A penas alguns carros com mascaras percorreram várias ruas, estabelecendo nalguns pontos verdadeiras “batalhas” de grã e “confetti”.

Na terça-feira voltou a animação nas ruas e largos, especialmente de tarde.

Esperavam-se novas mascaradas e de fato pelas 3 horas apareceu a paródia “As águas da vila”.

Vários cantoneiros, apontadores e engenheiro, procediam à medição das ruas para a canalização das águas pelas quais os torreenses estão esperando há uns bons vinte anos.

Atrás seguia um grupo de mulheres com bilhas em procura da água prometida e, acompanhando-as, um tipo característico de saloio muito bem apresentado, que olhava atento para as medições e a quem as mulheres perguntavam se sabia quando viria a almejada água, ao que ele respondia, com voz pausada:

– «Não se fiem nessas “medições”!… Tudo isso são cantigas. Lá prós nossos lugares também fazem destas coisas, quando estão perto as eleições… É tudo para enganar o povo e leva-lo a votar “lá neles”!…»

Até os astros ajudando a paródia, nesse momento despejaram alguma chuva, felizmente passageira, como que a lembrar que, quando ainda há pouco os apontadores e mais pessoal durante o tempo que andaram fazendo as medições… “para a água”, o céu despejou catadupas cá para baixo, nos queriam dizer: Previnam-se com água da chuva, porque outra não virá!…»

Pelas 4 horas da tarde aparecia no largo da Graça outro grupo político representando o franquismo local, precedido dos símbolos messiânicos e liberticidas.

Abria o “cortejo” uma figura de “clown”, despertando a atenção com uma campainha e logo atras seguiam em linha um palhaço com um pendão onde se lia: “Thalassa!… Thalassa!… Ao mar!… Ao mar!…”, uma figura de carrasco, com cabeça de leão, conduzindo uma força, no cimo da qual se lia- “Timor”- e na mão segurando uma lista dos conjurados, uma figura conduzindo um cortiço com este dístico: “Vespeiro”.

Logo a seguir marchavam as “vespas”, isto é, as figuras franquistas locais, em número de sete, se nos não enganamos.

Escusado será dizer que esta mascarada teve, como as anteriores, uma consagração de gargalhada que se propagou de rua em rua, sendo ainda passados dias objeto de comentários picarescos.

*

Na quarta-feira ainda se realizou o enterro do “entrudo” no qual tomou parte um numeroso grupo que percorreu desde as 8 horas da noite até cerca das 10 horas as principais ruas da vila acompanhado de uma música que tocava uma marcha fúnebre em passo cadenciado e levando num esquife a figura do “Carnaval” que terminou os dias de 1908, numa fogueira acesa no largo da Graça.

A esta romaria “fúnebre” não faltou grande número de “devotos” que em magotes, a acompanhou.

Reinou sempre a melhor ordem em todos os ajuntamentos, a qual também não foi alterada nos três dias de Carnaval, em que o povo gozando da máxima liberdade, soube mostrar o seu instinto ordeiro e pacífico.

Apenas um caso isolado e puramente individual se deu e que, se não teve consequências de maior, prova contudo o rancor manifestado por uma baixa ação de quem cometeu o fato.

Quando um dos mascarados do grupo “Os nacionalistas”, à noite passeava, também mascarado, pelas ruas da vila, encontrou em um estabelecimento onde um individuo funileiro, desta vila, depois de atraentes convites, para por o mascarado à vontade, lhe arrancou, rasgando inesperadamente a mascara, num ímpeto de mau instinto e só porque ele se não quisera a conhecer.

O mascarado era Aníbal Rodrigues da Silva.

Do outro ocultamos-lhe o nome, basta lhe para castigo, o remorso da sua feia ação.»

Texto da “Folha de Torres Vedras” a 8 de março de 1908.

Texto original:

Transcrições de Torres Vedras Antiga

*1-Arquivo: Biblioteca Municipal de Torres Vedras

Conheça aqui vários registos sobre a celebração do Entrudo/Carnaval em Torres Vedras (descobertos até agora e em atualização):

No século XVI (1/1/1501-31/12/1600).

No século XVII (1/1/1601-31/12/1700).

No século XVIII (1/1/1701-31/12/1800).

No século XIX (1/1/1801-31/12/1900).

No século XX (1/1/1901-31/12/2000).

No século XXI (1/1/2001-31/12/2100).

Poderá ver mais curiosidades em Torres Vedras Antiga

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